D. Person: Hey Bastian! Você passou alguns anos de sua infância no pequeno país africano de Burkina Faso. Foi possível assimilar alguma coisa em termos culturais e musicais deste país tão singular? Como foram seus primeiros contatos com a bateria?
Bastian Emig: Com certeza! O entendimento e a relação dos africanos com os ritmos e grooves é algo que você só consegue compreender morando por lá – é difícil de explicar, mas me ajuda muito quando estou fazendo um solo. Eles de alguma forma “alongam” os tempos e os preenchem com grooves inimagináveis, é incrível. Meu pai costumava trabalhar no meio do nada e, bem, foi lá que tive meus primeiros contatos com a bateria. Me lembro de fogueiras, dançarinos mascarados e ritmo...
Durante meu tempo na China, dei aulas de djembe juntamente com Sunny, um amigo vindo de Gana, era hilário! Ele queria que as garotas chinesas colocassem o djembe entre as pernas e gritava com elas: “Vamos, bata no instrumento, tem que ter pegada! Da mesma maneira como você gostaria que te pegassem na cama”! E eu deveria traduzir isto para as garotas, mas ficava imaginando a situação e então pensava: tudo bem, é a globalização cultural... ninguém entende ninguém, mas todos querem participar!
A China é um país multifacetado; em uma semana, acabei me enfiando em uma banda de punk com integrantes russos-americanos-canadenses e alemães. Era um show de horrores! Fizemos dois shows e em pouco tempo decidimos nos separar. Após algumas semanas conheci Yang, um chinês que passou metade de sua vida na Alemanha e trabalhava em uma revista do meio musical – foi através dele que tive a chance de tocar em diversas bandas chinesas, tendo tocado inclusive com o grupo Narakam (Mingjie), uma ótima banda de thrash metal. Fizemos diversos shows pelas grandes cidades e interior, tendo tocado inclusive no Midi Festival, um grande festival que acontece no Hidian Park em Beijing.
Para alguém nascido na China, aspirar por uma carreira musical – seja em uma banda de thrash metal ou de qualquer outro estilo – não é algo tão simples como acontece na Europa. O ambiente sócio-cultural é totalmente diferente. Devido às leis que incentivam as famílias chinesas a terem somente um filho, as crianças naturalmente carregam consigo uma responsabilidade muito maior perante seus pais. E ainda assim, existem tantos músicos excelentes por lá e pessoas com uma vontade incrível de fazer as coisas acontecerem, que isso torna os shows por lá ainda mais intensos: as pessoas sabem que os caras que formam uma banda tomaram uma importante decisão de nadar contra a maré e ir contra o convencional.
D. Person: Muito se fala atualmente sobre a dificuldade de se criar algo novo, não apenas dentro do heavy metal, mas no mundo da música como um todo. Eis que, de vez em quando, surgem bandas com propostas inovadoras e que injetam um novo gás de ânimo no cenário musical. O Van Canto é uma dessas poucas bandas que conseguiram trazer algo de novo ao cenário rock nos últimos anos. Isto é algo para se orgulhar, não é verdade? Qual é a importância de se inovar no mundo da música?
Bastian Emig: Obrigado! Primeiramente: ser inovador nunca foi nosso principal objetivo. Sempre pensamos apenas em fazer boa música. Acredito que as inovações aparecem porque os seres humanos se acostumam e se enjoam com quase qualquer coisa – mas uma boa música é algo atemporal. Você pode ouví-la uma, duas vezes, para sempre será uma boa música. Mas claro, é muito mais difícil chamar a atenção com algo convencional do que com algo novo – todos os integrantes da banda tiveram outros grupos antes e nunca chegaram tão longe quanto o Van Canto chegou. Mas o caminho para nós nunca foi fácil também: no início, enfrentamos diversas opiniões bastante rudes sobre não sermos metal o suficiente e até faziam piadas sobre nosso estilo de música; hoje, no entanto, as pessoas percebem nossa intenção. Quando o Nightwish surgiu com a vocalista Tarja e seu mix de metal com vocais operísticos, muitas pessoas se sentiram ofendidas, como se estivessem em uma missão com o objetivo de proteger o “verdadeiro heavy metal”. Hoje, todos nós sabemos o quão bem-sucedida a banda se tornou, e muita gente deseja que Tarja volte a se reunir com o Nightwish (embora eu pense que Anette Olson, atual front woman da banda, seja uma ótima vocalista também).
Se você faz o que ama e é bom naquilo, as pessoas irão notar. Mas o mais importante é: sua música deve representar você. Assim, o esforço vale a pena. A internet possui suas próprias regras; se você sabe como usá-la, pode ser bastante útil. Atualmente, é muito mais fácil se fazer notado simplesmente postando na internet algo que as pessoas poderão se interessar. Mas as pessoas geralmente não se importam com a questão da propriedade intelectual, e isso é muito ruim. Hoje em dia, é comum baixar qualquer música ou álbum de graça, e isto é um dilema: fazer música exige investimento.
No entanto, quando comecei a tocar piano, a fascinação que senti não era por todo o dinheiro que eu poderia ganhar com aquilo; naturalmente, minha fascinação foi pelo instrumento em si, pela música... assim, a música existe para que seja ouvida. Com o In Legend, decidimos disponibilizar nossa música de graça e as pessoas podem doar o quanto elas acharem justo por aquilo. Essa foi a decisão correta a ser tomada.
D. Person: Um dos grandes atrativos nos álbuns do Van Canto são as versões que a banda grava para clássicos do heavy metal. Vocês já haviam gravado sons como Battery (Metallica), Kings of Metal (Manowar) e, no último álbum „Tribe of Force“ vocês gravaram uma versão para „Rebellion – The Clans are Marching“, onde o próprio vocalista do Grave Digger, Chris Boltendahl, registrou sua participação nos vocais. Como foi para vocês ter a participação de Chris nesta música? Vocês já receberam feedbacks de outros artistas dos quais vocês fizeram covers?
Bastian Emig: Bem, ainda estamos esperando uma reação de James Hetfield, mas suspeito que simplesmente não somos grandes o suficiente para sermos notados por ele... vamos ver quantos sons do Metallica teremos que “coverizar” para que eles percebam que nós existimos...! Mas Chris gostou muito da versão que fizemos para a música do Grave Digger. Ele me convidou juntamente a um de nossos vocalistas, Stef, para a gravação dos coros do novo álbum deles. Tocarei também com o Orden Ogan, banda que abrirá os shows do Grave Digger durante a turnê européia, com certeza será uma ótima experiência!
Com relação à nossa versão para Rebellion, gostei muito do resultado, a voz de Chris se encaixou perfeitamente; seu timbre é único, seria muito difícil para que nossos vocalistas imitassem seu jeito de cantar... nós participamos também no show do Grave Digger no Wacken Open Air, foi incrível... palco principal do Wacken, sexta à noite diante de 90.000 pessoas... foi uma visão e tanto!
D. Person: Fale um pouco sobre seu set de pratos MEINL. Você utiliza dois Byzance dark crashes que casam muito bem com seu set de pratos MB20! Como você chegou à escolha do seu set?
Bastian Emig: Não foi fácil encontrar uma solução para meu setup de pratos usado nos shows. O que torna as coisas mais difíceis em um show do Van Canto é que sempre terei pelo menos 5 microfones para voz em minha frente, é como se minha batera tivesse alguns mics overheads a mais, e pior: “overs ambulantes”, já que todos os vocalistas ficam correndo pelo palco, cantando como Bruce Dickinson! Assim, foi preciso encontrar uma combinação de pratos que permitisse uma larga variação de alcances; quanto maior o palco, melhor. Não apenas porque nos sentimos melhor em palco grandes, mas por causa do “massacre de microfones over”, como nosso engenheiro de som costuma dizer! Nosso vocalista Ike, por exemplo, usa um microfone modulado especial, já que o volume de sua voz juntamente com o som dos meus pratos acaba saturando.
Em lugares menores, prefiro meus pratos Meinl Byzance, eles ficam ótimos com as vozes à capella. Já a combinação dos Meinl Dark Cymbals com as vozes e coros dos nossos vocalistas gera uma harmonia perfeita. Os Meinl MB20 são uma obra de arte, produzem um impacto incrível, com um brilho sem igual. A combinação dos MB20 com os Byzance abrangem toda a proposta musical do Van Canto. Com minha outra banda, In Legend, algumas músicas possuem partes com elementos eletrônicos, por isso eu adiciono alguns pratos de efeito ao meu setup também.
D. Person: O fato da banda não utilizar guitarras, baixo ou quaisquer outros instrumentos exceto batera e vozes nos shows com certeza dá ainda mais visibilidade para seu trabalho como baterista. Você gosta de assumir esta responsabilidade de "maestro"?
Bastian Emig: Bem, assumo esta responsabilidade levando a banda muito mais a sério do que os outros integrantes! : ) Brincadeiras à parte, de fato isto é algo único, ser o baterista da única banda de metal à capella do mundo. É um trabalho árduo, pois as vozes não funcionam de maneira simples como guitarras... tocar em uma banda com o Van Canto é algo excepcional e elaborado: muito mais do que simplesmente ligar o ampli, pegar as baquetas e sair tocando!
Durante todos os shows, os vocalistas possuem um sampler de piano reproduzindo a melodia de suas vozes em seus monitores in-ear e eu também tenho em meu monitor a trilha do piano juntamente com o metrônomo, então precisamos ter este cuidado de manter toda a banda alinhada, tocando de maneira totalmente coesa e ainda assim nao se esquecendo de que estamos em um show de rock... é desafiador. As pessoas precisam ver um show para entender, o Van Canto ao vivo é algo único, pois todos trazem seu instrumento consigo: sua própria voz. Todo o público se junta à banda e canta conosco durante o show. E ser o baterista em um cenário destes, tendo o único “instrumento de verdade” no palco... sim, de fato é demais!
Bastian Emig: Oh, acho que não posso fazer isso, me desculpe, mas garanto que teremos algumas faixas e outras novidades que farão a espera valer a pena! A maioria das músicas próprias do Van Canto são compostas pelo Stef, fundador do Van Canto, mas o novo álbum também terá músicas compostas por mim e pelo vocalista Ike. Após compor as músicas, Stef traduz a idéia dos padrões de vocais para todos os cantores, algo como “randandan” ou “mommommomm...”. Esta é uma parte crítica, pois os padrões de vocais definirão a dinâmica da música e a linha de batera. A princípio, você pode pensar que a letra “m” de “mommommomm... é usada principalmente em partes mais leves e lentas das músicas, mas na verdade o que acontece é o oposto; geralmente usamos este tipo de padrão vocal quando eu estou tocando levadas rápidas de dois bumbos e levadas em sextinas. Já o padrão “dun-do” é geralmente usado no final dos riffs de guitarra já que, cantado de uma maneira à la “Hetfield”, isto acaba dando mais força e uma ênfase em toda aquela parte da música.
D. Person: Você é também o líder da banda de piano metal In Legend, que tem uma proposta tão inovadora quanto a do Van Canto. Fale um pouco sobre este seu novo projeto.
Bastian Emig: No In Legend, todas as músicas são feitas por mim. Muitas das músicas que escrevi nos últimos anos surgiram no piano. Como não toco guitarra, precisava encontrar alguma maneira de passar minhas idéias aos outros músicos que tocavam comigo. Durante o tempo em que estive na China, passei um tempo pensando neste projeto e na sonoridade cujo resultado se vê no EP Pandemonium, gravado em 2009. Tive o prazer de trabalhar com o produtor Charlie Bauerfeind, que adorou o som do In Legend instantaneamente. Gravamos agora a bateria de 15 músicas, que serão lançadas no dia 20 de maio pelas gravadoras Steamhammer e Oblivion, da SPV.
Em 2010, o In Legend fez duas turnês com o Van Canto, o que significa que eu fui a banda de abertura de minha própria banda! : ) Isso foi difícil: primeiro cantar e “martelar” o piano, e em seguida trocar de roupa e ir para trás da bateria. Mas esta dobradinha funcionou muito bem e serviu para confirmarmos se o som do in Legend funcionava ao vivo tão bem quanto soava em estúdio. Nós identificamos nosso como sendo um “Hand Hammered Piano Craft” (Piano Martelado à mão) e para todos que não imaginam o que diabos isto significa, dêem uma olhada em nosso site, www.inlegend.de – lá vocês encontrarão a resposta. :-)
D. Person: Basti, muito obrigado por essa conversa, espero que o Van Canto volte ao Brasil em breve, e que você possa mostrar seu talento como pianista e vocalista também ao lado do In Legend!
Bastian Emig: Obrigado a você e obrigado a todos nossos fãs brasileiros, vocês são incríveis, definitivamente precisamos voltar ao Brasil! Obrigado pelos dias que nos proporcionaram quando estivemos por aí e fiquem de olho em nossas páginas de tempos em tempos, mais novidades devem surgir em breve! Valeu!
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